
Dentro do estádio, que também será uma das principais sedes dos Jogos Olímpicos de 2016, tudo correu bem na primeira apresentação do ex-beatle, na noite de domingo (22). Mas o show expôs possíveis problemas na infraestrutura do lado de fora do Engenhão.
Na saída do espetáculo, um nó se formou no trânsito na região do estádio. Já o esquema especial montado para o acesso de trem, meio de transporte que parte dos cariocas não costuma usar, funcionou bem e recebeu elogios de usuários de primeira viagem.
"Fiquei impressionada com a organização. Achei que ia ser mais confuso", dizia, na chegada da estação do Engenho de Dentro, a cineasta Raquel Stern, que mora no município de Niterói, do lado oposto da Baía da Guanabara.
Tanto na chegada como na saída, a quantidade de pessoas invadindo parte das ruas ao redor do estádio chamava atenção. Por ser circundado por vias de calçadas estreitas, o Engenhão não tem área de recuo para abrigar seu público. Na chegada, longas filas se formaram no meio da rua, e após o show o trânsito foi agravado pelo fluxo de pedestres no asfalto.
Opção
Inaugurado em 2007 para os Jogos Panamericanos, com capacidade para 45 mil pessoas, o Engenhão (Estádio Olímpico João Havelange) passará por ampliações para a Olimpíada de 2016, quando abrigará as provas de atletismo e as partidas de futebol.
"O Engenhão é um estádio moderno, amplo, com excelente acústica e forte potencial para receber shows musicais", diz Luiz Oscar Niemeyer, diretor da Planmusic, empresa que organizou o show de Paul McCartney. "O que precisamos é criar o hábito das pessoas de ir até o estádio", afirma Niemeyer. "Ter já na estreia um show de Paul McCartney, um beatle, é um privilégio."
O público carioca conhece bem o caminho para o Maracanã, onde Paul McCartney realizou o show que entrou para o livros dos recordes Guinness em 1990 (com público de 184 mil). Mas o estádio está fechado para obras desde o ano passado, e o Engenhão passou a abrigar as principais partidas dos campeonatos estaduais e brasileiro.
A expectativa agora é de que o estádio passe a suprir também a carência de palcos para grandes shows na cidade, pelo menos até a reinauguração do Maracanã, prevista para fins de 2012.
Lazer
O bairro do Engenho de Dentro fica numa região carente de opções de lazer e cultura e com problemas no escoamento do trânsito. A Prefeitura tem projetos para a região até 2016.
No início do mês, o governo municipal anunciou a desapropriação de mais de cem imóveis para alargar as principais vias de acesso, e quer transformar os galpões de trem desativados ao lado do estádio em uma praça aberta para a circulação do público e o lazer dos moradores.
Morador do bairro, o comerciante Télio Teixeira diz ter dúvidas sobre a promessa.
"Na época do Panamericano, a verba incluía um projeto de recuo para todas as ruas e a construção de um shopping para beneficiar os moradores", afirma Teixeira. "Passado o Pan, todo o dinheiro para a parte externa do estádio sumiu."
O secretário municipal do Turismo, João Pedro Figueira de Melo, diz que a complexidade de receber o show de um ex-beatle é um bom teste do que se pode esperar com os Jogos Olímpicos. "O Rio está acostumado a sediar grandes eventos, como o Réveillon e o Carnaval, mas é sempre uma preparação", afirma.
Apelo
Antes dos shows, a Prefeitura fez um apelo para que o público optasse pelo transporte público, recorrendo a trem, metrô ou às 40 linhas de ônibus que passam pela região. Metrô e trem aumentaram a frequência de suas linhas para as datas e ofereceram bilhetes casados.
Figueira de Melo diz que ainda é preciso "desmistificar" o uso do transporte público no Rio. "É a primeira vez que muitas pessoas vão para o Engenhão", afirma o secretário. "Grande parte do público que vai ao show não está acostumada a usar o trem. A gente tem que se acostumar a usar o transporte de massa."
A Supervia (companhia que administra o trem) colocou oito novas composições com ar-condicionado para funcionar em esquema especial para o show, saindo da Central do Brasil.
O geógrafo André Ormond, torcedor do clube arrendatário do estádio, o Botafogo, acompanha todos os jogos do time e se surpreendeu com a diferença.
"Hoje foi show de bola, mas isso não é nem perto do habitual", afirmou. "Eles só colocaram composições novas, não os trens caindo aos pedaços que a gente costuma ver."
Fonte : BBC Brasil
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