segunda-feira, 16 de maio de 2011

Ian Anderson surpreende com show "plugado" em SP

Provavelmente, alguns admiradores do Jethro Tull optaram por não ir ao Credicard Hall neste sábado (14) para acompanhar a mais um show do líder do conjunto, Ian Anderson, pelo fato de a apresentação ter sido divulgada como acústica ou por ser parte de sua turnê solo. Quem fez isso por um desses dois motivos cometeu um erro. Em quase duas horas de palco, o músico apresentou um repertório recheado com as principais canções que marcaram sua carreira de quase 45 anos, sempre em versões elétricas e empolgantes.
A dica foi dada tão logo entrou em cena a banda que acompanha Anderson em seu giro atual. Com 20 minutos de atraso, o grupo, composto por quatro instrumentistas além do protagonista da noite, já tocou de cara Living in the Past, com todos os músicos em pé e empunhando instrumentos elétricos, fazendo cair por terra qualquer possibilidade de uma apresentação desplugada. Além disso, abrir uma apresentação com um dos maiores sucessos do grupo de rock progressivo inglês fez crer que os paulistanos teriam pela frente um repertório recheado de clássicos - fato reforçado com a canção seguinte, A New Day Yesterday, do segundo disco da banda, Stand Up, lançado em 1969.
"Olá, boa noite! Heeeey!", saudou o empolgado e sorridente flautista, "isso é muito antigo, de 1971, do álbum Aqualug", anunciou antes de Up to Me, citando o principal, ou pelo menos o mais conhecido, disco de sua carreira.
Anderson segue sendo um grande frontman. Apesar de seus 63 anos de idade e de já ter passado por severos problemas de saúde - como uma trombose venosa profunda que afirma quase tê-lo matado 15 anos atrás -, o simpático vocalista continua fazendo suas dancinhas, lançando seus trejeitos e contando boas histórias ao público. À certa altura, ele chegou até a fazer uma espécie de moonwalking (o passo em que Michael Jackson deslizava de costas pelo chão) enquanto tocava. E a flauta? Bem, não é preciso dizer que o músico foi o primeiro a introduzir esse incomum instrumento no rock, tampouco que foi o único com competência suficiente para mantê-lo dentro dele de forma que, não só não soasse rídicula ou despropositada, se encaixasse perfeitamente em suas canções, tornando-se a principal característica de som de seus projetos. O tempo, no entanto, tratou de prejudicar sua voz, quase nula nas notas mais altas.
O palco do show era simples, como costuma ser nas apresentações do músico. Nada de cenários de fundo ou pirotecnias, apenas as tradicionais luzes e alguns efeitos para embelezar o fundo preto e vazio. Contudo, a configuração do conjunto tinha uma característica diferenciada: em vez de estar lá atrás, escondido atrás de seu instrumento, o baterista Scott Hammond ganhou um lugar de destaque entre os cinco instrumentistas, o lado direito do palco, dando aos presentes a oportunidade de acompanhar de forma nítida a técnica aplicada ao bumbo, caixa e tom.
Após apresentar Hare in the Wine Cup e uma canção instrumental, bastante admiradas pelos fãs pela enorme qualidade musical da banda, Anderson apresentou seus companheiros de palco - o baterista Scott Hammond, o guitarrista Florian Opahle, o baixista David Goodier e o tecladista John O'Hara - para dar continuidade ao repertório de clássicos com Songs from the Wood. "Vou fazer agora a versão jazzistica para uma música de Joseph Sebastian Bach", anunciou antes de Bouree, canção originalmente escrita pelo famoso compositor erudito alemão, que ganhou bela gravação de Anderson em 1969, ainda mais graciosa quando apresentada ao vivo.
Na sequência, o líder surpreendeu ao anunciar Thick as a Brick, ópera-rock lançada pelo Jethro Tull em 1972, cuja duração é de 45 minutos. "Na verdade, tocaremos uma versão mais curta dela", explicou antes de sua execução, com cerca de um terço do tempo da versão original. Ovacionado, Anderson anunciou na sequência o momento guitar hero do espetáculo, uma versão heavy metal de Florian para Tocata in Fugue , outra de Bach, acompanhada pelos outros três músicos, já que nessa hora o protagonista do evento se retirou do palco.
Ao retornar, o cantor contou a história da música posterior, escrita na Índia após conhecer um sujeito que se apresentou com ele no país tocando uma cítara - instrumento típico da região. "Esta faixa foi escrita há pouco tempo. Na verdade, eu a fiz há dois anos e se chama A Change of Courses", anunciou, apontando para o O´Hara que nesta canção tocaria acordeão.
Uma das grandes características do show, como é de praxe nas apresentações de Anderson e do Jethro Tull, foram as grandes passagens instrumentais, solos e improvisações dos músicos. Isso pode normalmente parecer um tanto dispensável, mas não foi o caso. Com um grande entrosamento e passagens muito bem ensaiadas, a banda trazia o público para dentro do palco, dando muitas vezes a impressão de se estar em um lugar muito menor, ainda mais intimista, tamanha a naturalidade com que os trechos eram executados.
My God, outro grande sucesso do Jethro Tull, foi muito bem recebida e bastante cantada pelo público, apesar de ter ficado claro o fato de que quem vai a um show do flautista escocês quer mesmo é assistir, e não ficar acompanhando a letra com o vocalista. A maravilhosa Budapest, balada que figura tranquilamente entre as mais belas canções do rock, deu continuidade ao espetáculo, seguida pela ansiosamente aguardada Aqualung, faixa título do álbum homônimo, que ganhou versão repaginada de quase dez minutos repleta de trechos instrumentais.
"Dê boa noite, Florian. Dê boa noite, Hammond", brincou o carismático Anderson antes de se retirar do palco ao som de aplausos e gritos. Minutos depois, com, "Locomotive Breath", também bastante modificada em relação à versão original, Anderson encerrou suas quase duas horas de show na cidade de São Paulo. E que venham outras.

Set-list:
Living in the Past
A New Day Yesterday
Up to Me
Hare in the Wine Cup
New Band Instrumental
Songs from the Wood
Prelude Bach - Bouree
TAAB Poet Painter
Toccata and Fugue
A Change of Horses
My God
Budapest
Aqualung - orchestral/band version
Encore:
Locomotive Breath - orchestral/band version
Fonte : portal Terra

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